quinta-feira, 21 de julho de 2011

8ª Aula de Jorge Luís Knak sobre o livro "What are we seeking" do Prof. TKV Desikachar – Confiança e liberdade

Pela segunda vez consecutiva não conseguimos gravar em vídeo devido a problemas com a internet. Acredito que agora o problema tenha sido resolvido e poderemos ter a gravação em vídeo retomada no próximo encontro.
Para que os interessados possam manter a continuidade dos estudos, fiz um texto resumindo a aula dada.
Espero que aproveitem e desculpem pela impossibilidade de disponibilizar o vídeo.

Abraços,

Jorge Luís Knak
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Grupo de estudos com base no livro “What are we seeking” do Prof. TKV Desikachar


AULA 8 – 20 de Julho de 2011
Jorge Luís Knak

Na aula anterior nos dedicamos a entender um pouco sobre as duas abordagens “terapêuticas” na relação com o sofrimento. Porém, estas abordagens ainda estão relacionadas à consideração causa-efeito.
Hoje, vamos trazer um novo componente para esta reflexão. Além de nos debruçarmos sobre a compreensão de quais os sintomas e qual a causa de nossas aflições, precisamos pensar também sobre um outro nível de experiência presente em nossa vida. Vamos a ele.
Do ponto de vista do yoga, há um espaço dentro de nós que não está preso às relações causa-efeito. Por mais que perder um emprego, receber uma notícia triste sobre um amigo próximo ou passar por qualquer experiência dolorosa provavelmente nos deixará abalados, a realidade do indivíduo nunca se reduz a isso. Ou seja, há algo em nós que não é afetado por isto. Há um espaço livre em nós, um espaço que jamais se perturba. Esta dimensão é pouco explorada em muitas abordagens terapêuticas, talvez porque tomem por base a sensação de desequilíbrio, sensação esta que acaba por nublar a dimensão mais livre. A pergunta mais natural neste momento seria: de que me adianta uma dimensão mais livre se minha sensação é de perturbação? Esta pergunta, central no questionamento a respeito dos vários níveis do indivíduo, é importante para que possamos entender a necessidade de nos conectarmos a este espaço interno. E, na verdade, nossa participação é decisiva, pois a vivência ou não desta dimensão depende do quanto amadurecemos este vínculo. Quando vemos as várias formas como diferentes pessoas reagem à mesma situação externa, entendemos o quanto a resposta a um fator externo é relativa. A partir de um olhar mais sensível veremos que esta dimensão intacta está sempre à nossa disposição, porém pode num momento estar um pouco mais escondida do que em outros. Em certos momentos sentimos que determinada notícia quase nos “destrói por inteiro” enquanto que em outro momento ela é apenas “um pedaço” da nossa realidade emocional. A sensação de sermos destruídos por algo vem de um engano mental que é a base de nossos conflitos, o temporário é tomado como permanente.
Este espaço, chamado coração (Hrdayam), devido à sua independência e liberdade, nos traz conforto, bem-estar, acolhimento. Já quando nos desconectamos dele, sentimos como se olhássemos nossas perturbações através de uma lupa, elas passam a ocupar um espaço que, na verdade, não pertence a elas. Há um sentimento que é muito vinculado a este lugarzinho sobre o qual estamos falando, é a confiança, a fé (sraddha). A confiança está além da lógica, ela às vezes pode ser surpreendente e nos levar numa direção que a lógica não levaria. Há muitas situações de pessoas que passam por várias adversidades em seu caminho e, mantendo a confiança de que chegarão ao seu destino, acabam por surpreender. Se nos limitarmos apenas à dimensão de causa-efeito, não chegaremos ao mesmo lugar.
Infelizmente, na esmagadora maioria das situações, somos levados pela maré. Nossos medos, inseguranças, apegos, acabam por nos convencer a escolher uma direção que não nasce da confiança. E sempre é bom lembrar que o caminho à nossa frente se constrói a partir de nossas escolhas...

Versos base:

Yogasutra

I.20 - "Sraddha Virya Smrti Samadhiprajna Purvaka Itaresam"
Tradução e comentários de TKV Desikachar (no livro "O Coração do Yoga") a respeito do verso:
"I.20 - Através da confiança, que nos dará suficiente energia para atingir o sucesso apesar de todos os prováveis desafios, a direção será mantida. A realização do objetivo do Yoga é uma questão de tempo."
O objetivo é a habilidade de direcionar a mente para um objeto sem nenhuma distração, resultando, com o tempo, numa compreensão clara e correta do objeto em questão.
A fé, a confiança, é a convicção inabalável de que podemos chegar naquele objetivo. Não devemos ser iludidos pela complacência perante pequenos sucessos ou desencorajados pelos fracassos. Devemos trabalhar firme e estavelmente em meio às distrações, pareçam elas boas ou ruins.

I.24."Klesa Karma Vipaka Asayaih Aparamrstah Purusavisesa Isvarah"
Tradução e comentários de TKV Desikachar (no livro "O Coração do Yoga") a respeito do verso:
"I.24 - Deus é o ser supremo cujas ações nunca estão alicerçadas no engano."

I.36."Visoka va Jyotismati"
Tradução e comentários de TKV Desikachar (no livro "O Coração do Yoga") a respeito do verso:
"I.36 - Quando refletimos sobre o que é a vida e o que nos mantém vivos, podemos encontrar um acolhedor refúgio para nossas distrações mentais."
A consideração de coisas que são maiores do que nossa realidade individual nos ajuda a colocar a nós mesmos na perspectiva apropriada.

quinta-feira, 14 de julho de 2011

7ª Aula de Jorge Luís Knak sobre o livro "What are we seeking" do Prof. TKV Desikachar – Sobre as formas de lidar com o sofrimento

A aula 7 não foi gravada em vídeo devido a problemas com a internet. Para que os interessados possam manter a continuidade dos estudos, fiz um texto resumindo a aula dada.
Espero que aproveitem e desculpem pela impossibilidade de disponibilizar o vídeo.

Abraços,

Jorge Luís Knak

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Grupo de estudos com base no livro “What are we seeking” do Prof. TKV Desikachar


AULA 7 – 13 de Julho de 2011
Jorge Luís Knak



Breve revisão da aula anterior:
A palavra chave de nosso encontro anterior é a palavra “samskara”. A compreensão do que é “samskara” nos ajudará a construir uma compreensão mais madura de como funciona nossa mente e trará uma noção mais clara de como o sofrimento se instala. Entre as traduções possíveis para esta palavra poderíamos usar “tendência ou marca mental”. Como vimos na aula anterior, tendências mentais existem e não são negativas em si. Nós precisamos de automatismos para sobreviver. Mas a mesma característica que em um determinado momento nos auxilia, em outro pode nos colocar em perigo ou nos trazer frutos negativos. A partir disso podemos concluir que um certo grau de atenção e sensibilidade é sempre importante em nossa relação com o mundo, pois se apenas os automatismos governarem não há lugar para o novo, não há espaço para uma visão mais limpa do que está na nossa frente. Uma vez que o automatismo toma conta, o que predomina são as memórias (tanto as mais superficiais quanto as mais profundas). Memórias são importantes, mas uma vida feita apenas de memórias impedem que possamos ver o presente como ele é.
Não vou aprofundar mais este ponto porque já tratamos disso anteriormente.

Aula de hoje:

Formas de lidar com a sofrimento


Em yoga duas idéias são apresentadas na forma de lidar com o sofrimento. Com certeza várias abordagens terapêuticas terão uma visão muito semelhante, pois é uma realidade muito fácil de ser experienciada e compreendida. Creio que estes dois conceitos que abordaremos aqui sejam estudados com a mesma seriedade em muitos caminhos de autoconhecimento, sejam eles caminhos religiosos ou meramente “terapêuticos” no sentido mais acadêmico.
As palavra originais que remetem as estas duas idéias que estudaremos aqui são “samanam” e “sodhanam” (aqui a letra “s” tem som de “x”). A primeira poderia ser traduzida por “pacificação”, trazendo o sentido de acalmar, aliviar. A segunda poderia ser traduzida por “limpeza ou purificação” e traz o sentido de reduzir ou remover a causa, curar. Ambas tem um papel muito importante e a segunda raramente é possível de ser acessada sem que a primeira tenha sido experienciada em algum grau.
Um fato a ser considerado com relação à primeira etapa (pacificação) é que, se nos limitarmos a ela exclusivamente, os sintomas acabarão retornando com o tempo. O resultado desta primeira etapa é apenas temporário. Isso não tira a importância desta etapa, apenas aponta para nós os limites dela. Desconsiderar esta etapa por ela ser considerada mais “limitada” em seus resultados seria como deixar de limpar a casa porque sabemos que depois ela irá sujar novamente.
A fase de pacificação tem como objetivo reduzir os sintomas que estarão se manifestando no corpo, na respiração e na mente. Sempre que passamos por um período de perturbação (sofrimento), junto com esta experiência podemos perceber alguns sintomas como inquietação ou prostração, pessimismo, humor instável, respiração curta, agitada ou pesada. Na maioria das vezes mais de um destes sintomas aparecerá. Nosso objetivo, então, será ajudar a trazer de volta um pouco de bem-estar, um pouco de calma e conforto. Dificilmente isso ocorrerá automaticamente num momento como esse, precisaremos de meios que nos possibilitem “encontrar, despertar” este sentimento. Neste ponto é que será mais visível, talvez, a diferença entre a primeira etapa e a segunda etapa. Os meios que adotaremos para nos acalmar, para nos trazer bem-estar, não são exatamente os mesmos que serão utilizados para nos ajudar a lidar com a causa do sofrimento. Neste momento, a maturidade e a sabedoria do professor (ou terapeuta, mestre, guia) são essenciais, pois cabe a ele refletir não só sobre qual o meio adequado para a pessoa como também qual o momento para realizar esta interferência.
Vivemos numa época onde, definitivamente, não nos faltam abordagens de pacificação. O difícil, em meio a tudo isso, é saber como e quando utilizar estas ferramentas. Não é à toa que, na visão do yoga, é importante encontrarmos uma pessoa em quem confiamos e que seja comprometida com o propósito de conhecer a si mesma(ou seja, dedicar-se a seu processo pessoal de aprendizado e reflexão) e conhecer o outro (ou seja, ouvir o outro e aplicar aquilo que já amadureceu em seu aprendizado pessoal) para nos auxiliar neste caminho.
Normalmente, em nossa trajetória, acabamos por esquecer de nossos problemas quando a primeira etapa traz algum efeito. Por exemplo, se eu começo a ter problemas para dormir isso me deixará incomodado, cansado, me forçará a fazer algo para resolver a situação. Talvez, se eu mudar um pouco a minha rotina à noite, este problema diminua. Talvez eu substitua a novela da noite ou o vídeo-game por um bom livro ou uma música agradável. Isso pode me ajudar, será uma mudança positiva, mas existe uma grande chance de esta não ser a principal causa das minhas noites sem sono. Essa medida me acalmará, me trará uma noite um pouco melhor, por conseqüência ficarei com mais disposição e mais saudável. Ou seja, é realmente uma medida importante, não deve ser desprezada. Porém, uma vez tendo recuperado um pouco da minha disposição, seria muito importante que eu continuasse a tentar entender a razão pela qual tenho estado agitado à noite, talvez eu descubra coisas importantes a respeito do meu dia, do meu trabalho eu de minha relação com os outros. Como popularmente se diz: não queremos ficar só apagando incêndios.
Há versos no Yogasutra que tratam deste assunto. Dentre eles temos os versos II.10 e II.16 que enfatizam a importância de continuarmos a buscar amadurecimento e clareza mesmo nos momentos em que nos sentimos bem. Ou seja, quando não há sofrimento, desequilíbrio ou perturbação aparente, devemos aproveitar para enraizar ainda mais nossa compreensão e nossa descoberta de nós mesmos. Partir do reconhecimento de que a felicidade depende de nosso estado interior e de que está, portanto, em nossas mãos, é um dos mais centrais alicerces deste sistema. Portanto, o movimento nesta direção é sempre louvável e é considerado como sendo a única maneira de realizarmos nosso propósito de ter uma vida plena, rica. Isso trará uma alegria mais verdadeira e permanente não só para nós mesmos, mas também para aqueles com quem nos relacionamos. Quanto mais alicerçada numa busca sincera, sustentada e profunda, menos excludente é nossa felicidade. Cabe a cada um a busca, ela é pessoal, não há como terceirizar, mas seus resultados sem dúvida se espalham e se multiplicam a partir desta solidez.
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Versos citados:

Yogasutra
II.10
"Te pratiprasavaheyah suksmah"

Tradução e comentários de TKV Desikachar (no livro "O Coração do Yoga") a respeito do verso:
Tendo apresentado os obstáculos que nublam a percepção clara, Patanjali indica qual deveria ser a atitude da pessoa que deseja reduzi-los.
"II.10 - Quando os obstáculos parecem não estar presentes, é importante permanecer vigilante."
Um estado temporário de clareza não deve ser confundido com um estado permanente. Partir do pressuposto de que tudo estará bem de agora em diante é perigoso. Agora é ainda mais importante ter cuidado. A queda da clareza para a confusão é mais perturbadora do que o estado de ausência completa de clareza.

II.16
"Heyam duhkham anagatam"

Tradução e comentários de TKV Desikachar (no livro "O Coração do Yoga") a respeito do verso:
"II.16 - Efeitos dolorosos que possivelmente ocorrerão devem ser previstos e evitados"
Devemos agir de maneira que possamos prever ou reduzir possíveis efeitos dolorosos. Patanjali dá continuidade ao assunto apontando as causas de tais efeitos dolorosos e o que deve ser feito para desenvolver dentro de nós a capacidade de previsão, prevenção, redução e aceitação dos mesmos. A prática de Yoga tem o propósito de reduzir os efeitos dolorosos em nós mesmos através do aumento de clareza, discriminação.
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sexta-feira, 1 de julho de 2011